4 de junho de 2020

Esse texto é de autoria da Martha Medeiros, foi publicado em ZH em 23/11/08, como eu gosto muito do que ela escreve resolvi copiar ele aqui, mas não é só porque gosto dos textos, mas porque eu particularmente me identifiquei muito com ele, pois passei por uma situação parecida neste sábado quando fui em busca de um vestido de festa pra mim. Quer coisa pior do que uma vendedora chata atrás da cortina do provador te perguntando se serviu e ainda pedindo pra ver como ficou??? Vamos ao texto:

Se eu precisasse fazer uma lista das coisas que menos gosto na vida, ela não seria muito extensa, pois vim ao mundo com uma boa dose de benevolência, mas "experimentar roupa" certamente constaria nesse rol. Por exemplo, já me apaixonei por alguns vestidos expostos nas vitrines, porém não costumo levar o caso de amor adiante: só de imaginar o ritual de aproximação me dá uma preguiça oceânica. Ter que entrar numa cabine, tirar os sapatos, a calça, a camiseta, o blusão (imagine que é inverno), vestir a peça nova sem poder retirar a etiqueta, a atendente esperando ansiosa do outro lado da cortina, a luz forte do provador realçando todas as deficiências da sua epiderme, o espelho não sendo muito caridoso com seus quadris (engraçado, ontem eu não estava assim redonda) e seus pensamentos avisando: você não tem bolsa que combine com esse vestido, criatura! Esqueça, não serviu. Tire tudo, recoloque seus muafos (sua roupas envelheceram 10 anos nos últimos 10 minutos), enfrente a cara de decepção da vendedora e volta correndo pra casa. No trajeto você lembrará: que gênia eu sou, sigo sem um único trapo para usar hoje à noite, e a festa é lá em casa, pra que bolsa? Tudo café pequeno diante da tarefa inglória de provar biquínis. Sei que você não quer falar sobre isso, mas é preciso, estamos em plena época do suplício, o verão está batendo à porta. Aposto 10 contra um que você passará o Réveillon em alguma praia. Vai ter que comprar pelo menos um biquíni novo. Unzinho só. Não dá pra escapar. Então, ao trabalho: coloque um sorriso no rosto e finja que é a coisa mais normal do mundo ficar nua dentro de um provador minúsculo forrado de espelhos por todos os lados, mostrando você de frente, de costas e de lado em sua infinita brancura glacial. Sim, você ainda não está bronzeada. Segue leitosa, o que não valoriza nada o biquíni que está provando, mas tudo bem, abstraia, pense que é final de fevereiro e que até a sua alma já está torrada. Agora é só torcer para que a parte de cima sirva e a parte de baixo também, o que é praticamente um milagre. Eu abençoo todas as lojas que vendem as partes do biquíni de forma avulsa, permitindo que a gente misture estampas e troque os tamanhos. P em cima, GG embaixo. Acertei? Claro que não, logo se vê que me falta silicone - inclusive no cérebro. Quem não nasceu Ana Hickmann aqui faz, aqui paga e aqui se diverte, porque só rindo de certas provações femininas.


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